Meu fim de semana é dividido entre a leitura das revistas semanais, no sábado pela manhã, e a praia, o chope e os bolinhos de bacalhau com amigos queridos no domingo. Neste final de semana resolvi dar o famoso “pitaco” político. Posso estar errado, mas é minha opinião. Está sujeita a erros de interpretação e pode ser criticada. Afinal, como dizem os espanhóis: politica é discutida entre tapas e botellas de vinho.
Queria falar de São Paulo, que eu gosto muito e conheço muito bem desde os meus tempos de repórter de agronegócio, há 30 anos. Eu tento entender a recusa do eleitorado paulista em relação aos políticos locais em detrimento a candidatos de outros estados, na maioria das vezes de histórico duvidoso e pouca experiência política (como o atual governador – só para citar um exemplo). É um fenômeno intrigante e multifacetado.
A preferência do eleitor paulista por candidatos de fora do estado é um fenômeno complexo, que não pode ser explicado por um único fator. Na minha visão, há uma combinação de insatisfação com os políticos locais, desconfiança nas instituições, além de fatores econômicos, sociais e culturais. É provável que essa tendência continue a moldar o cenário político no estado e na capital, com implicações para todo o Brasil. Afinal, São Paulo é a locomotiva do país.
Os políticos paulistas têm enfrentado um desgaste significativo ao longo dos anos. São Paulo tem sido governado quase que exclusivamente por nomes ligados ao PSDB, como Mário Covas, Geraldo Alckmin e João Doria, sem falar de outros como Orestes Quércia, Paulo Maluf e cia.
De uma ótica externa, a ideia é de que a longevidade desses grupos políticos gerou um cansaço no eleitorado, que busca renovação e mudanças. Dados da pesquisa Datafolha de 2022 mostraram que mais de 60% dos eleitores estavam insatisfeitos com a classe política local.
A busca por figuras externas também pode ser explicada pela cultura de valorização do “novo”. Muitas vezes, o eleitorado é seduzido pela promessa de renovação. Um exemplo recente é o caso do senador Sérgio Moro, do Paraná.
Nesse universo, o marketing eleitoral tem desempenhado um papel crucial na eleição de candidatos de fora do estado. Campanhas agressivas e bem financiadas conseguem vender a imagem de renovação e de “outsiders”, mesmo que o histórico dos candidatos seja obscuro. A campanha de 2018 de Jair Bolsonaro, embora não seja um político paulista, foi fortemente apoiada em São Paulo.
A crescente desconfiança nas instituições políticas também contribui para esse fenômeno. O eleitor paulista, assim como o brasileiro, tem demonstrado crescente ceticismo em relação às instituições democráticas.
De acordo com o relatório Latinobarômetro, da Unesco, de 2021, apenas 23% dos brasileiros confiam nos partidos políticos. Esse ceticismo abre espaço para que candidatos de fora do estado, muitas vezes com uma retórica anti establishment, também ganhem terreno.